domingo, 27 de junho de 2010

Do além de Orwell

Reproduzo a minha postagem preferida do Blogs do Além,  a de George Orwell, criador do termo Big Brother.
Para quem já leu 1984 e a Revolução dos Bichos,  sabe que foi Orwell que idealizou, em 1948-49, o quase onipresente Grande Irmão, que inspirava medo de ser delatado como traidor ou subversivo ao sistema autoritário. Nesse caso a ex-URSS, embora que por sistema autoritário até as nações capitalistas aliadas poderiam estar no contexto.





ISSO AÍ,  MEU IRMÃO 

Por uma coincidência incrível, dois programas de grande audiência da tevê brasileira tem relação com minha obra literária. Estou falando, obviamente, do Big Brother, inspirado no livro 1984 e do A Fazenda, que lembra muito meu outro livro, Revolução dos Bichos. Só que nesse segundo caso, o dono da fazenda é pastor e os porcos são representados por antas.

Quero dizer que não acredito que os programas de tevê precisem ter conteúdo edificante ou que tenham de colaborar com a formação cultural das plateias. Tevê, em especial, é feita pra divertir. Quer cultura? Então vai pra biblioteca e leia em silêncio, por favor. Gosto de Big Brother e tenho muito orgulho de ter escrito 1984, livro que inspirou e deu origem ao nome do programa. Adoro paredão e sou daqueles que gastam todos os créditos do pré-pago para participar das votações de eliminação.

E digo mais. O programa é até respeitoso com 1984. Vejamos isso nos pormenores. No livro, o Estado mantinha o controle do pensamento dos cidadãos através de vários meios, entre eles, a manipulação da língua. Para tanto, os especialistas do Ministério da Verdade criam a novilíngua, uma outra língua ainda em construção que, quando estivesse completa, impediria a expressão de qualquer opinião divergente do regime.

De certa forma isso acontece no BBB. Os participantes falam uma outra espécie de português que os impede de expressar qualquer coisa. Já reparou como uma das funções do Bial é traduzir os participantes?

Basicamente, em 1984, eu mostrava como uma sociedade oligárquica e coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. O personagem principal, Winston Smith, um homem com uma vida insignificante, só que sem um corpo esculpido na academia, recebe a tarefa de perpetuar a propaganda do regime.

No BBB também temos personagens com vidas insignificantes. A sociedade brasileira continua oligárquica. O coletivista fica por conta da audiência e das redes sociais. E cada participante é um divulgador do regime. Do capitalista e das baixas calorias.

Bom, um pouco de adaptação toda obra tem de sofrer quando muda de plataforma. Mas quer mais reverência a 1984 do que isso?

Postado por George Orwell às 18:33

http://blogdoorwell.blogspot.com/2010/01/titulo.html

Autoria: Vitor Knijnik

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