terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Coisas que leio por aí

Hoje pela manhã achei esse artigo escrito pelo Plinio Arruda para a Terra Magazine. Por quais razões o povo brasileiro, a exemplo de outros povos vizinhos, não se rebela?  Por que desprezamos quando certos segmentos  desfavorecidos da sociedade vão às ruas por seus direitos?  O artigo de Plinio Arruda serve como um lampejo rumo à reflexões sobre práticas históricas e fatos cotidianos.

Porque o nosso povo não se rebela?

Plínio de Arruda Sampaio
De São Paulo

Os telejornais estão cheios de noticias das rebeliões que estão acontecendo na França, Inglaterra, Itália e Grécia. Multidões de funcionários públicos, trabalhadores, agricultores, caminhoneiros, ocupam as ruas, bloqueiam estradas, ocupam edifícios públicos em protesto contra cortes em seus direitos.
Por que aqui não acontece o mesmo, sendo que os cortes são muito maiores?

Dois fatores explicam a passividade da nossa gente.

O primeiro deles é a terrível repressão policial sobre os insurgentes. Desde a Inconfidência Mineira, o povo sabe que a repressão dos revoltosos é seletiva: os figurões da conspiração foram deportados; o sargento de milícias foi enforcado, sua cabeça exposta ao público e o terreno da sua casa salgado para que nadajamais voltasse a nascer ali.

Em 1964, os deputados, senadores, governadores, políticos importantes e pessoas poderosas foram cassados e tiveram seus direitos políticos suspensos. Mas, o patrimônio deles não foi tocado, sua família sempre pôde vir ao Brasil, passada a cassação todos tiveram seus direitos restabelecidos e, muitos receberam polpuda indenização. Os líderes camponeses que se rebelaram foram todos assassinados.

O povo observa essas coisas.

O segundo fator da conformidade chama-se "cultura do favor". Roberto Scharwz tratou desse assunto com maestria. Segundo ele, durante os trezentos anos de escravidão, só havia dois grupos sociais organicamente ligados à produção e, portanto, à obtenção de renda (monetária ou sustentada pelo trabalho). Os demais grupos (negros alforriados, mulatos, cafusos, profissionais sem patrimônio, brancos pobres) só tinham duas maneiras de sobreviver: ou por meio de atos ilícitos ou pela proteção de um poderoso.

Surgiram daí o capanga; o mumbava; o cabo eleitoral.

A cultura do favor é uma ética da gratidão. O marginalizado, no sentido daquele que vive à margem dos direitos sociais, que recebe um favor do poderoso está moralmente obrigado a devolver esse favor, a fim de se sentir uma pessoa digna.

Esta cultura atingiu não somente o pobre, mas também o poderoso. Porque sempre há alguém mais poderoso de quem se necessita uma providência - um favor.

Num livro admirável, Ligia Osório de Souza demonstrou que a elite dominante brasileira desenvolveu uma técnica legislativa destinada a evitar que a lei seja aplicada imparcial e universalmente. Toda lei brasileira tem preceitos vagos e confusos para possibilitar o casuísmo. O casuísmo é o favor.

Conta-se até mesmo a anedota do cidadão que pediu um favor a um senador e quando este respondeu-lhe que não podia atender por ser ilegal respondeu: "Mas é por isso mesmo que estou recorrendo ao senhor; se fosse legal, eu protocolaria no balcão da repartição". No Brasil, no balcão só os pobres sem padrinho.

Pois bem, uma população totalmente sem esperança de conseguir que seus problemas sejam resolvidos contentou-se com migalhas e identificou na figura do Lula o poderoso que lhe faz um favor. Seu dever moral é retribuir esse favor e o meio de que dispõe para isto é o voto.

Não adianta nada demonstrar que o governo Lula está metido em falcatruas e que as migalhas distribuídas não resolvem o seu problema. Se dever moral é retribuir o favor.


Plínio Soares de Arruda Sampaio, 80 anos, é advogado e promotor público aposentado. Foi deputado federal por três vezes, uma delas na Constituinte de 1988, é diretor do "Correio da Cidadania" e preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária - ABRA

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Brasil já tem mais de um celular por habitante

Segundo a Anatel, houve 2,9 milhões de novas habilitações em outubro, caracterizando crescimento de 1,55% em relação a setembro e fixando teledensidade de 100,44 acessos por cada 100 habitantes.
O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, Ronaldo Sadenberg, divulgou na última quinta-feira (18) que a telefonia móvel ultrapassou, em outubro, a marca de um celular por habitante.
Com 2.967.108 de habilitações em no mês (crescimento de 1,55% em relação a setembro), o Brasil chega a 194.439.250 de acessos do Serviço Móvel Pessoal (SMP) e teledensidade de 100,44 acessos por 100 habitantes (crescimento de 1,48% sobre o mês anterior).
No balanço anual, o serviço registrou, até agora, 20.479.882 novas habilitações, o que representa um crescimento 11,77% e um aumento de 10,92% na teledensidade.
Em outubro, 12 Estados já possuíam mais de um celular por habitante: Distrito Federal, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia, Espírito Santo, Pernambuco e Paraná.
Do total de acessos, 159.811.754 (82,19%) são pré-pagos. Os demais 34.627.496 (17,81%), pós-pagos. A consolidação dos números mensais do SMP está disponível no portal da Agência, na visão Sala de Imprensa, canal "Anatel em dados", item "Telefonia móvel".
Operadoras
A Vivo ainda continua na liderança com 30,3% de market share. As seguintes posições continuaram as mesmas, como em segundo a Claro, 25,58%, e em terceiro a Tim, com 24,67%. Já a Oi ainda possui participação modesta no mercado e registra, até então, 19,35%.
3G
Os terminais 3G (banda larga móvel) totalizaram, em outubro de 2010, 18.709.895 de acessos, o que representa um crescimento de 116% no ano.

passeios pelo centro do Rio

sábado, 30 de outubro de 2010

Ninguém é uma ilha VI - Livro de Monteiro Lobato pode ser banido por racismo


Constatei que as manhãs de sábado trazem notícias que nunca espero via mídia. Enquanto leio os editorais, eis que deparo na página do jornal O Dia, com a notícia  que um livro de Monteiro Lobato pode ser banido por racismo. Nossa, a Turma do Sítio Pica-pau Amarelo faz parte da infância de gerações. Não me surpreendi com as acusações de racismo em Tintin, de Hergé,  palavras que formam palavrões em Batman.

Bem, proibições, denuncias de obcenidades e preconceitos a livros e HQ destinados à garotada escolar, vire e mexe aparece. Abaixo o que foi publicado no jornal.

Livro de Lobato pode ser banido por racismo

Conselho de Educação quer proibir obra da turma do Sítio do Picapau Amarelo nas escolas devido a referências a Tia Nastácia e sua cor em comparação com animais

Rio - As aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo poderão ser banidas das salas de aula. O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer proibir nas escolas públicas do País o livro ‘Caçadas de Pedrinho’, um clássico da literatura infantil escrito por Monteiro Lobato. Os 12 conselheiros do órgão acataram por unanimidade denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, que considerou a obra racista. Conforme parecer do Conselho, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e referências a animais, como urubu e macaco.
Publicado em 1933, o livro narra as peripécias de Pedrinho à procura de uma onça pintada. Em um dos trechos da obra que motivou a denúncia o escritor diz: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”. De acordo com a autora do parecer, Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os exemplares devem ser retirados das escolas ou adotados desde que a obra traga nota sobre os “estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura”.
Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) informou que o ministro vai consultar a Secretaria de Educação Básica, responsável pela seleção dos livros do Programa Nacional do Livro Didático. A obra foi distribuída pelo próprio MEC a colégios de Ensino Fundamental pelo Programa Nacional de Biblioteca na Escola. O ministério não disse quantos livros foram entregues.


Para a educadora Sônia Travassos, especialista em Literatura Infanto-juvenil pela UFRJ, a proibição é absurda. “Achava que já tivéssemos superado a censura com o fim da ditadura. Não é possível que alguém pense em impedir a circulação dos livros do maior escritor de literatura infantil que o Brasil já teve”, criticou. Estudiosa da obra de Monteiro Lobato, a professora defende a discussão da obra em sala de aula. “Se o livro está na escola, cabe ao professor, mediador da leitura, oferecer elementos, informações, sobre o contexto em que ele foi escrito”, disse. Sônia Travassos lembra que a Tia Nastácia é querida por todos do Sítio, participa da vida social da família e tem espaço para expressar sua cultura.

“Os alunos têm o direito de ler os livros de Lobato: livros que abrem as portas do imaginário, apontam críticas sociais e só têm a acrescentar na formação leitora das crianças”, defende a educadora.

Município vai manter a obra


Enquanto o MEC avalia a recomendação do CNE, a Secretaria Municipal de Educação do Rio informou que continuará adotando as obras de Monteiro Lobato. Segundo a secretaria, o uso da obra, “é sempre uma oportunidade para que o tema do preconceito seja trabalhado”. 


O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Rio, Victor Notrica, reprova o veto à obra de Lobato: “O Sinepe-Rio é contra qualquer cerceamento de leitura de autores consagrados. Vetar a obra de Monteiro Lobato é uma violência. A criança aprende muito lendo Lobato. Defendemos a liberdade de leitura, com orientação”.

Fonte: Jornal O Dia

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ninguém é uma ilha V: 10 Estratégias de Manipulação Midiática

10 Estratégias de Manipulação Midiática
:: Acid ::


O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou uma lista das "10 estratégias de manipulação" através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais" (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas').

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto...

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.


Autor: Acid
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=10295

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ninguém é uma ilha IV

Continuando sobre o tema aborto.  Matéria publicada no Correio Braziliense.
Tema recorrente na política, o aborto é um problema grave de saúde


Publicação: 10/10/2010 09:30

Uma romaria de mulheres procura diariamente os hospitais públicos brasileiros. Depois de abortos clandestinos e malsucedidos, elas precisam de atendimento médico com urgência. São, em média, 256 a cada dia, 10 por hora. A mesma quantidade de vítimas de clínicas ou medicamentos clandestinos enfrenta a decisão pelo aborto sem qualquer suporte médico.

Os hospitais mantidos pelos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) não fazem tantas cirurgias quanto as curetagens. São procedimentos que exigem anestesia, geral ou local, para a retirada de restos de placenta do útero. Necessárias depois de abortos provocados, são 500 curetagens por dia. É mais do que o dobro de procedimentos de retirada de útero e o triplo da quantidade de cirurgias de períneo, as duas cirurgias mais frequentes pelo SUS, depois da curetagem.

Em qualquer site de busca na internet, a digitação das palavras misoprostol e Citotec garante um retorno fácil de informações. Para misoprostol, o primeiro retorno é “onde comprar misoprostol”. Para Citotec, “Citotec preço”. O medicamento, indicado para combater úlcera gástrica, é amplamente vendido na rede a mulheres interessadas em abortar. A proibição da venda, em 1991, não inibiu o consumo do produto como abortivo. É, há 20 anos, o método mais utilizado pelas brasileiras para dar fim a uma gravidez indesejada.

Nem a hipertensão arterial, nem hemorragias e infecções matam tantas mulheres no parto em Salvador (BA) quanto os abortos malsucedidos. É essa a principal causa de mortalidade materna na capital baiana. Em todo o país, o aborto é a terceira ou a quarta causa — de acordo com cada região — de morte de mulheres no parto. A cada quatro dias, em média, morre uma brasileira que decidiu fazer aborto, levando-se em conta apenas os registros de mortes informados pelos hospitais ao Ministério da Saúde.

O comitê de mortalidade materna de Recife (PE) começou a perceber um aumento dos casos de meninas que se suicidam nos primeiros meses de gravidez. Os casos passaram a ser estudados pelo comitê, que busca as razões junto a familiares e médicos para evitar novas ocorrências. As mortes se somam às dezenas de outros óbitos de mulheres jovens, que decidiram abortar na clandestinidade e que sucumbiram após a última tentativa de socorro médico, na rede pública de saúde de Recife.

As constatações são inúmeras, seja nos dados oficiais do Ministério da Saúde, na rotina dos hospitais, no milionário comércio de medicamentos ilegais — trata-se de uma prática rotineira, que consome R$ 30 milhões do SUS todos os anos. O dinheiro é insuficiente para assegurar a saúde e a vida dessas mulheres.

Especialistas acreditam que o embate político na disputa presidencial deste ano reduziu a discussão a um mero aspecto religioso e fez os candidatos ignorarem o aspecto de saúde pública do aborto. O assunto passou a ser o mote do segundo turno das eleições, ganhou evidência, mas foi reduzido a posições contrárias ou favoráveis simplesmente.

“Se os candidatos querem seriamente discutir o aborto, não devem fazer disso uma moeda de troca com as religiões. Debater o aborto deve ser um marco da saúde das mulheres, não uma concessão religiosa”, afirma a antropóloga Debora Diniz, pesquisadora do Anis — Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, e professora da Universidade de Brasília (UnB). Debora é uma das principais referências no assunto. No início do ano, um estudo de sua autoria, a Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), mostrou que 15% das mulheres brasileiras já fizeram um aborto pelo menos uma vez na vida.

“A abordagem dos candidatos está completamente inadequada. O aborto não é uma carnificina nem é uma questão religiosa em si”, diz o professor de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí Thomaz Gollop, coordenador de um grupo de estudo sobre aborto da Socidade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Como médico, é óbvio que não sou a favor do aborto, mas estamos lidando com preconceitos, e não com conceitos.” Gollop lembra que a proibição do aborto está prevista numa lei de 70 anos atrás. “Os costumes e a realidade mudaram completamente”, diz o pesquisador. A legislação penal garante a realização do aborto apenas para casos em que a gravidez é decorrente de um estupro ou oferece riscos de morte à gestante.

sábado, 9 de outubro de 2010

Ninguém é uma ilha III

As duas matérias que reproduzo aqui são de assuntos relacionados à vida humana.   Uma é uma carta-manifesto sobre o tráfico  humano e a outra sobre  a mobilização de feministas à favor do aborto.  Esta última, de tão polêmica, por assim dizer pesada, é item na disputa política. Temos uma candidata à presidência  que em campanha antes do primeiro turno tinha ou tem uma posição sobre o aborto, já está confuso.   
No meu ver deve-se discutir a questão da vida humana focado no direito democrático, não por pressão de vertentes religiosas e de preconceito. Ora, qual parcela social é mais atingida? A mulher pobre, a de classe média ou a rica?
Também não para que se faça que a coisa corra de maneira frouxa, afinal temos um universo jovem em expansão, mas também não se deve fechar os olhos ou tampar o sol com a peneira para aqueles casos previstos no código penal.  
Agora, uma coisa que encucuca, por que as rádios e  as emissoras de tv não divulgam isso? Não fazem debates?  Eu arrisco uma resposta, digo em outro post. 



27/09/2010
Carta de São Sebastião
Leia a íntegra da carta divulgada pelo Movimento contra o tráfico de Pessoas no Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças

Considerando que o tráfico de pessoas é um crime fruto de diversos fatores como o tipo de globalização que vivemos na sociedade mundial, concentrador de riquezas nas mãos de poucos;

Considerando que a Organização das Nações Unidas - ONU, admite ser esse crime o pior desrespeito aos direitos inalienáveis da pessoa humana;

Considerando que é também a ONU a afirmar não haver países inocentes nesse tipo de crime globalizado, pois a nação ou vende ou compra o ser humano como mercadoria de consumo;

Considerando que a Organização Internacional do Trabalho - OIT, afirma ser o tráfico humano a segundo fonte ilegal de renda do mundo perdendo apenas para o tráfico de armamentos, com uma renda anual de 32 bilhões de dólares;

Considerando que é também a OIT que estima serem traficados por ano, cerca de dois milhões e 800 mil seres humanos para o trabalho escravo, exploração sexual e venda de órgãos e tecidos;

Considerando que 83% das pessoas traficadas é constituído de mulheres e crianças do gênero feminino;

Considerando que 48% das vítimas do tráfico humano têm menos de 18 anos;

Considerando que nosso país, o Brasil, é tido como o maior “fornecedor” de jovens mulheres, adolescentes e crianças nas Américas traficadas para a indústria do sexo nos países do Primeiro Mundo.

Considerando que também somos um país demandador do tráfico humano, além de termos um tráfico interno que incide de forma perversa sobre adolescentes e crianças;

Considerando que o ocorrido em território brasileiro pode ser qualificado como vergonha nacional;

Considerando que estamos às vésperas das de eleições presidenciais;

Considerando que em tempo algum, ouvimos de qualquer candidato à Presidência da Republica, pertencente a qualquer partido político, menção de que o enfrentamento a esse crime faz parte de sua plataforma política de ação;

Frente a todos esses fatos, o Movimento contra o tráfico de Pessoas constituído por cerca de 50 entidades da sociedade civil brasileira e os participantes do “Seminário sobre o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: desafios e possibilidades”, realizado nos dias 23 e 24 de setembro,
em São Sebastião, município do litoral norte de São Paulo, vem por meio desta carta solicitar o posicionamento dos candidatos à Presidência da República em relação ao seu compromisso e engajamento ao combate a esse crime monstruoso que ameaça nosso maior patrimônio nacional, isto é, nossos adolescentes e crianças.

São Sebastião, 23 de setembro de 2010,
Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças


Feministas lançam Plataforma pela Legalização do Aborto

sexta-feira 1 de Outubro de 2010, por Terezinha Vicente 




Se tem uma data que mobiliza todas as feministas brasileiras há mais de vinte anos, além do 8 de março, é o dia de luta latino americano e caribenho pela legalização do aborto, 28 de setembro. As feministas sabem da importância fundamental da autonomia da mulher para sua emancipação, e sabem como é fundamental para alcançá-la a autonomia sobre o próprio corpo, sobre a sexualidade, e como lhe são negados historicamente os direitos sexuais e reprodutivos. Enquanto elas tentam avançar nesta luta – criando inclusive uma Frente Nacional pela Legalização - nos últimos anos, tem recrudescido no Brasil as ações de criminalização das mulheres e de propaganda contra a legalização do aborto, principalmente na mídia comercial e no Congresso.
Neste 28 de setembro, foi lançado pela Frente em todo o país uma Plataforma com propostas para a descriminalização do aborto. Em São Paulo, o ato aconteceu na Praça do Patriarca, reunindo perto de 200 pessoas, representando diversas organizações de mulheres, centrais sindicais (CUT e Conlutas) e partidos (PT, PSol e PSTU), que caminharam ao final até o Largo São Francisco. “Esta é uma luta histórica das mulheres”, disse Amelinha Teles (União de Mulheres), “e é importantíssimo que os jovens venham a aderir e também os homens. Existe muita resistência do povo que sofre muita influência da Igreja e só apresenta argumentos religiosos, não conseguimos discutir politicamente o respeito a vida das mulheres”. Para a conhecida feminista, apesar das dificuldades, “esta luta vem avançando, a legalização do aborto não é mais pauta só das mulheres, hoje está na agenda política”.

Unificar a luta

“Conseguimos unificar neste ato setores diferentes do movimento de mulheres, o que é muito importante, pois precisamos da união de todas as mulheres e de toda a classe trabalhadora neste tema difícil”, comemorou Luka, do PSol e uma das coordenadoras da Frente Paulista. A jovem ativista acredita que a pouca mobilização deve-se “ao machismo interno nos partidos e organizações que tem dificuldade em ver como estratégico o tema do aborto”. Além disso, “no período eleitoral, as candidaturas cedem às chantagens dos setores retrógrados, devido ao atraso da consciência popular, e com medo de perder votos, ninguém se coloca a favor da legalização”.
“Para nós trabalhadoras é muito importante este debate, que é feito falsamente”, disse à Ciranda, a secretária da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, que representava no ato a CUT Nacional. “As mulheres de classe média tem condições de decidir sobre seu corpo, inclusive sobre aborto, enquanto nós, trabalhadoras, sofremos com esta questão. As pobres somos tratadas como máquina de reprodução de mão de obra para o capital, por isso há todo um cerco contra a autonomia das mulheres.Queremos um debate livre sobre a reprodução, sobre o quanto as mulheres são capazes de fazer e sobre mão de obra barata; precisamos incluir os homens na discussão, pois eles são parte da reprodução, no entanto a sociedade os exime disso”.
“Cadê o homem que engravidou? Por que a culpa é da mulher que abortou?”
Intercalando palavras de ordem ao som unido dos tambores da Fuzarca Feminista (batucada da Marcha Mundial de Mulheres) e do Batuque do Grupo de Mulheres Pão e Rosas (LER-QI e independentes), falaram diversas lideranças no ato em São Paulo. Yuri Puello Orozco, das Católicas pelo Direito de Decidir, lembrou recentes pesquisas que comprovam que a maioria das mulheres que fizeram aborto são católicas, ou seja, não aceitam a posição retrógrada da Igreja. Ou como disse Yuri, “a mulher católica que faz aborto está utilizando o ‘uso da consciência’, recurso previsto no magistério da IC, além de ser um posicionamento amparado pelo direito constitucional que diz respeito à saúde integral e à dignidade humana”. Tatiane Ladeira, da Casa Viviane, em Guaianazes, contou das mulheres em situação de violência que acolhem, e chamou a atenção para o aumento de mulheres com problemas de saude mental, alimentados por sentimentos de culpa, em boa parte criados pelo discurso dos movimentos fundamentalistas, que se dizem “em defesa da vida”.
A defesa do estado laico, a questão eleitoral, e o não posicionamento pela legalização do aborto por parte das principais candidatas no atual processo, foi criticada em várias das falas feministas. “Duas mulheres candidatas”, disse Flávia Vale, da LER-QI, “e ambas não mexem uma palha pela legalização do aborto, não podemos ter ilusões com os parlamentares”. Também Ana Luiza, do PSTU, criticou a atuação do parlamento. “São os parlamentares que impedem a lei de ser implementada, mas o Estado tem que ser laico e garantir o direito a todas as mulheres, independente de religião”.
Plataforma contra a hipocrisia
Várias ativistas do movimento estudantil (USP, Unicamp e UNE) fizeram uso da palavra em defesa das mulheres, como também as lésbicas, representadas pela LBL. Saudando esse “dia de unidade na América Latina pela construção de nossa autonomia e contra a criminalização do aborto”, falou Sonia Coelho, da MMM e da coordenação da Frente Paulista. “A Marcha Mundial de Mulheres tem desafiado os outros setores dos movimentos a discutir sem hipocrisia a questão do aborto; queremos um debate real sobre o que significa o aborto para as mulheres trabalhadoras, negras, pobres, quanto sofrimento!”
Encerrando o ato, foi apresentada por Tatiana Berringer, da Consulta Popular e da MMM, a Plataforma para a Legalização do Aborto no Brasil, que vem sendo construída pela Frente Nacional desde o ano passado. “Escrita conjuntamente pelas organizações que compõem a Frente”, disse Tati, “ela se constitui de propostas de políticas públicas, leis efetivas que garantam o Estado laico, o acesso a contraceptivos, formação dos profissionais da saúde, direito, assistência social, garantias de serviço público de qualidade”. Soninha completou dizendo que “a idéia é debatermos amplamente esta plataforma, incorporar outros setores favoráveis à legalização do aborto, aprimorarmos as propostas. Queremos que as mulheres deixem de ser humilhadas, torturadas, presas, e que possamos discutir profundamente esta questão no Brasil”.
Fonte: http://www.ciranda.net
http://carosamigos.terra.com.br/