quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um pouco de disciplina

Escrever às vezes não é tão fácil quanto parece. Apesar de ter vários coisas escritas colocá-las no blog para compartilhá-las tem sido dificil. A dificuldade está na minha indisciplina em atualizar o blog. Como costumo dizer que uma caminhada começa com um passo, já estou avançando.  A intenção é sempre postar algo  toda semana. Serão escritos, fotos ou citações de artigos.  Espero companhia nesta caminhada. 

Um breve interlúdio

Contamos nossa existência em anos. Decidi contar a minha em dias, pura e simples-mente em dias. É mera matemática, assim descobri que já passei dos meus 20.100 dias.
Anos, meses, dias, verões ou primaveras, não têm importância. No final são apenas números.
O que não consigo enumerar são as conversas interessantes e divertidas, os momentos felizes que tive, pois foram tantos. Consigo lembrar de alguns.

A felicidade que sinto vem de vários momentos seja a lembrança de um simples sorriso ou de um solitário momento de contemplação. Da lembrança de uma velha conversa ou de uma canção.
Essa alegria tem várias fontes.

Em 20.100 dias de vida conheci também a tristeza e a dor, afinal são experiências da vida.
Dizer que a vida é prazer e sofrimento é o mesmo que dizer que o dia é dividido em 12 horas de luz e outras 12 para a noite. Porém se estiver na Antártica perceberá que a noite é mais longa que o dia durante a maior parte do ano.
A vida é conjunto de experiências, um aprendizado para a evolução interna. Basta estar atento aos sinais. Mais do que estar atento é querer essa evolução.

Em 2000 anos de humanidade sucederam-se evoluções e revoluções.
Das selvas para as cidades, do uso da pedra para o uso do metal, das terras além-mar para as estrelas.
Como evoluímos tanto tecnologicamente e tão pouco humanisticamente!

20.100 dias de existência e vida é tão breve...
Neste mundo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Continuando sobre o assunto Pessoas Invisivies eis um artigo de 2004 publicado na revista Época  em 2004:
Gente invisível

Psicólogo investiga a vida das pessoas que, ao vestir um uniforme, ganham invisibilidade – são tratadas como se não existissem

Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível. 'Fiquei atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro', lembra. Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao vestir um uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das disciplinas que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por semana, a rotina dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto com eles. Ao vestir calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção', esperava causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus amigos, professores, companheiros de futebol e conhecidos da USP. No entanto, não conseguiu nem mesmo receber um bom-dia. 'Atravessei o andar térreo da Psicologia de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar perguntas intrigadas, mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os professores com quem havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam sua presença. Não é que tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. Era como não estar lá; como 'não ser'.

O mal-estar experimentado por Braga jamais o abandonou. Ele passou os nove anos seguintes trabalhando com os garis da USP e transformou em tese de mestrado o indigesto tema da 'invisibilidade pública' - o desaparecimento de um homem no meio de outros homens. Concluída em 2002, a tese agora vira livro lançado pela editora Globo.

Ironicamente, o psicólogo ganhou visibilidade falando da invisibilidade, que, segundo ele, está relacionada à divisão social do trabalho e afeta até mesmo quem não é totalmente excluído economicamente. Ela seria uma espécie de cegueira psicossocial, que elimina do campo de visão da maioria da população aqueles que são condenados a exercer uma atividade subalterna, desqualificada, desumanizante e degradante o dia inteiro, às vezes uma vida inteira. É uma situação diferente da contada pelo escritor americano Ralph Ellison, que nos anos 50 lançou seu romance O Homem Invisível. Ellison, negro, contava a história de um descendente de escravos que ao percorrer os Estados Unidos descobriu apenas que, por ser negro, era ignorado - segundo ele, algo muito pior que ser confrontado ou desprezado. Braga mostra que, independentemente do preconceito racial, o preconceito social também é tão incrível que leva a simplesmente apagar pessoas do campo de visão. 'Nem na Suécia uma criança é incentivada pelos pais a ser gari, faxineiro ou coveiro', provoca. 'Não tem a ver com salário, mas com a simbologia.'

Artigo na íntegra no link abaixo.
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT764232-1664,00.html

sábado, 1 de maio de 2010

Pessoas Invisivéis

Certo domingo voltei a um dos lugares que muito me faz bem. Gragoatá, precisamente em frente ao campus da UFF.
Se perguntarem o que há de especial no lugar digo com sinceridade, nada. Porém é um nada especial, é algo subjetivo, composto de atos simples. Sentar na calçada ou numa pedra, olhar o mar, parte da cidade do Rio de Janeiro e a boca da baía. Um pouco de contemplação.
No entanto, ao observar as pessoas pescando e outras passeando, percebi uma pessoa que não estava lá para pescar ou passear. Era um gari que cumpria suas funções de manter a limpeza das vias públicas.
Logo veio a lembrança de algo que um sociólogo em entrevista, pessoas invisíveis.
Diariamente passamos por diversas pessoas invisíveis. São pessoas que, em parte, ao vestir um uniforme para exercer determinadas funções são tratadas como se inexistissem. Exemplos: garis, empregadas domésticas, faxineiros de shopping.
Todos já fomos invisíveis - às vezes ainda somos dependendo da ocasião, porém é uma invisibilidade temporária, circunstancial. Afinal quem já foi a algum evento social sem conhecer alguém sabe como é isso. A invisibilidade que separa, degrada e humilha é a simbólica, pois como todo símbolo tem o seu peso e função na sociedade que tempos em tempos é reinventado para manter-se atual, o que torna a pessoa invisível é o que ela representa.
A invisibilidade simbólica implica também na divisão social e nas relações de poder. Se Gisele Bunchen ao invés de usar roupas de grife usasse um uniforme de doméstica de Ipanema talvez chamasse atenção pelos atributos físicos, mas, certamente perceberia que ela seria pobre e subalterna. Ela seria uma ferramenta de limpeza. O contrário seria, se fosse enfermeira, pois sua importância para sociedade é maior do que a de domestica.
A importância é conforme a necessidade social e o grau hierárquico.
O que dizer das minorias étnicas, sociais, os desafortunados do Paraíso? É preciso fazer barulho para ser vistos.
Qualquer pessoa pode estar invisível, até nós mesmos. Os mecanismos que causam essa cegueira são de origem cultural, economia, enfim, é complexo
Pergunta-se: Como enxergamos uma pessoa invisível? Como nos relacionamos com esse outro?