sábado, 1 de maio de 2010

Pessoas Invisivéis

Certo domingo voltei a um dos lugares que muito me faz bem. Gragoatá, precisamente em frente ao campus da UFF.
Se perguntarem o que há de especial no lugar digo com sinceridade, nada. Porém é um nada especial, é algo subjetivo, composto de atos simples. Sentar na calçada ou numa pedra, olhar o mar, parte da cidade do Rio de Janeiro e a boca da baía. Um pouco de contemplação.
No entanto, ao observar as pessoas pescando e outras passeando, percebi uma pessoa que não estava lá para pescar ou passear. Era um gari que cumpria suas funções de manter a limpeza das vias públicas.
Logo veio a lembrança de algo que um sociólogo em entrevista, pessoas invisíveis.
Diariamente passamos por diversas pessoas invisíveis. São pessoas que, em parte, ao vestir um uniforme para exercer determinadas funções são tratadas como se inexistissem. Exemplos: garis, empregadas domésticas, faxineiros de shopping.
Todos já fomos invisíveis - às vezes ainda somos dependendo da ocasião, porém é uma invisibilidade temporária, circunstancial. Afinal quem já foi a algum evento social sem conhecer alguém sabe como é isso. A invisibilidade que separa, degrada e humilha é a simbólica, pois como todo símbolo tem o seu peso e função na sociedade que tempos em tempos é reinventado para manter-se atual, o que torna a pessoa invisível é o que ela representa.
A invisibilidade simbólica implica também na divisão social e nas relações de poder. Se Gisele Bunchen ao invés de usar roupas de grife usasse um uniforme de doméstica de Ipanema talvez chamasse atenção pelos atributos físicos, mas, certamente perceberia que ela seria pobre e subalterna. Ela seria uma ferramenta de limpeza. O contrário seria, se fosse enfermeira, pois sua importância para sociedade é maior do que a de domestica.
A importância é conforme a necessidade social e o grau hierárquico.
O que dizer das minorias étnicas, sociais, os desafortunados do Paraíso? É preciso fazer barulho para ser vistos.
Qualquer pessoa pode estar invisível, até nós mesmos. Os mecanismos que causam essa cegueira são de origem cultural, economia, enfim, é complexo
Pergunta-se: Como enxergamos uma pessoa invisível? Como nos relacionamos com esse outro?

2 comentários:

  1. As pessoas só são invisíveis, nesse caso, enquanto suas funções estão sendo cumpridas. A partir do momento em que tais funções deixam de ser exercidas nota-se claramente a sua falta. Se a rua não é limpa, se o lixo não é coletado, ou se a grama não e podada todos sentem e reclamam. Não creio que realmente estas pessoas sejam invisíveis. A invisibilidade está na cabeça e nos olhos de quem menospreza tais funções, mas as julga importante quanto o serviço não está sendo feito. Questão de hierarquia? Também não sei dizer. Talvez porque acostuma-se em ter o serviço feito e paga-se na maioria das vezes pelo mesmo. É algo habitual, se vamos ao médico existe o atendente e o próprio médico pra nos servir (isso nem sempre). Se vamos ao dentista o mesmo ocorre. O que é a tal invisibilidade então? Será que é o serviço bem feito? Ou a discrição do bom profissional? Pode-se também pensar por esse lado. O serviço bem feito, por um profissional competente, seja ele faxineiro, pedreiro, enfermeiro, gari ou doméstica é indispensável. Nota-se somente quando ele não é feito ou é ruim.

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  2. Como você disse é algo sóciocultural. Em parte ligado ao menosprezo à determinadas funções em outra parte ligada as relações de poder/capital. Ou ainda a invisibilidade está quando não nos incomodamos com determinadas situações, exemplo um mendingo pedidndocomida quando você está em um bar beira rua comendo. Isso é subjetivo.
    Vou postar o link de artigo sobre sso ( Onde tudo começou, pelo menos para mim).
    P.S: O que dizer sobre os índios?

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