Constatei que as manhãs de sábado trazem notícias que nunca espero via mídia. Enquanto leio os editorais, eis que deparo na página do jornal O Dia, com a notícia que um livro de Monteiro Lobato pode ser banido por racismo. Nossa, a Turma do Sítio Pica-pau Amarelo faz parte da infância de gerações. Não me surpreendi com as acusações de racismo em Tintin, de Hergé, palavras que formam palavrões em Batman.
Bem, proibições, denuncias de obcenidades e preconceitos a livros e HQ destinados à garotada escolar, vire e mexe aparece. Abaixo o que foi publicado no jornal.
Livro de Lobato pode ser banido por racismo
Conselho de Educação quer proibir obra da turma do Sítio do Picapau Amarelo nas escolas devido a referências a Tia Nastácia e sua cor em comparação com animais
Rio - As aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo poderão ser banidas das salas de aula. O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer proibir nas escolas públicas do País o livro ‘Caçadas de Pedrinho’, um clássico da literatura infantil escrito por Monteiro Lobato. Os 12 conselheiros do órgão acataram por unanimidade denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, que considerou a obra racista. Conforme parecer do Conselho, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e referências a animais, como urubu e macaco.
Publicado em 1933, o livro narra as peripécias de Pedrinho à procura de uma onça pintada. Em um dos trechos da obra que motivou a denúncia o escritor diz: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”. De acordo com a autora do parecer, Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os exemplares devem ser retirados das escolas ou adotados desde que a obra traga nota sobre os “estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura”.
Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) informou que o ministro vai consultar a Secretaria de Educação Básica, responsável pela seleção dos livros do Programa Nacional do Livro Didático. A obra foi distribuída pelo próprio MEC a colégios de Ensino Fundamental pelo Programa Nacional de Biblioteca na Escola. O ministério não disse quantos livros foram entregues.
Para a educadora Sônia Travassos, especialista em Literatura Infanto-juvenil pela UFRJ, a proibição é absurda. “Achava que já tivéssemos superado a censura com o fim da ditadura. Não é possível que alguém pense em impedir a circulação dos livros do maior escritor de literatura infantil que o Brasil já teve”, criticou. Estudiosa da obra de Monteiro Lobato, a professora defende a discussão da obra em sala de aula. “Se o livro está na escola, cabe ao professor, mediador da leitura, oferecer elementos, informações, sobre o contexto em que ele foi escrito”, disse. Sônia Travassos lembra que a Tia Nastácia é querida por todos do Sítio, participa da vida social da família e tem espaço para expressar sua cultura.
“Os alunos têm o direito de ler os livros de Lobato: livros que abrem as portas do imaginário, apontam críticas sociais e só têm a acrescentar na formação leitora das crianças”, defende a educadora.
Município vai manter a obra
Enquanto o MEC avalia a recomendação do CNE, a Secretaria Municipal de Educação do Rio informou que continuará adotando as obras de Monteiro Lobato. Segundo a secretaria, o uso da obra, “é sempre uma oportunidade para que o tema do preconceito seja trabalhado”.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Rio, Victor Notrica, reprova o veto à obra de Lobato: “O Sinepe-Rio é contra qualquer cerceamento de leitura de autores consagrados. Vetar a obra de Monteiro Lobato é uma violência. A criança aprende muito lendo Lobato. Defendemos a liberdade de leitura, com orientação”.
Fonte: Jornal O Dia